07/01/24 – A atriz Fernanda Torres entrou para a história do cinema brasileiro e internacional, na noite de domingo (5), ao se tornar a primeira brasileira a conquistar o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Drama por sua atuação no filme ‘Ainda Estou Aqui’, dirigido por Walter Salles, com expectativa para a indicação ao Oscar.
Muitas pessoas ainda não sabem, mas a Embratur vem, desde o ano passado, desenvolvendo uma série de iniciativas voltadas a disseminar produções audiovisuais brasileiras pelo mundo para fortalecer o turismo audiovisual no país.
A Agência trabalha junto a diversos parceiros para o fortalecimento do setor audiovisual, tendo em conta a importância de estimular tanto a dimensão artística desta atividade quanto a sua dimensão econômica. “O objetivo principal é potencializar a força da produção audiovisual do país, bem como dos nossos ativos culturais, como meio para manter vivas as histórias do país e apresentar o Brasil em sua essência ao mundo”, destaca o presidente da Embratur, Marcelo Freixo.
Para ele, os conteúdos audiovisuais também são fundamentais para impulsionar o turismo brasileiro. “Acreditamos muito na força dos nossos filmes, telenovelas e séries como uma ‘janela’ para promover o país, a nossa cultura, o nosso talento e a nossa criatividade e, assim, chamar a atenção no mundo. É uma estratégia operada por diversos países para se colocar no cenário internacional. Também é uma forma de atravessar barreiras culturais, mostrando o Brasil com um país diverso, que produz arte e cultura de qualidade. As obras audiovisuais são ferramentas decisivas para isso”, destacou.
EMBRATUR PROMOVE O TURISMO AUDIOVISUAL
Em entrevista, o supervisor de Audiovisual e Economia Criativa da Embratur, Christiano Braga, explica as iniciativas da Agência para incentivar e investir na promoção internacional do país por meio das produções audiovisuais. Confira o bate-papo:
A criatividade brasileira já possui algum reconhecimento internacional, sobretudo o nosso cinema e a nossa música. Alguns filmes produzidos no Brasil já foram premiados e reconhecidos internacionalmente e, da mesma forma, a nossa produção musical que contribuem para formar um imaginário mundial acerca do Brasil. No entanto, para além do significativo sucesso do filme arrebatando diferentes plateias, chamando atenção de formadores de opinião mundo afora, esse filme vem fazendo com que o brasileiro sinta-se orgulhoso da nossa produção cinematográfica e vá ao cinema. Porém, o mais interessante na premiação da Fernanda Torres, uma atriz atuando em um filme falado em portugês, além de ser um reconhecimento à sua trajetória, significa quebrar uma barreira, atravessar uma ponte, derrubar muros e isso, no cenário mundial, é muito simbólico. O filme, definitivamente, destaca o talento e a qualidade presentes desde sempre no audiovisual brasileiro e a força das histórias que temos e podemos contar para o mundo enquanto nação.
Essa premiação é mais uma porta que se abre para muitas possibilidades. A primeira delas é o de aproveitar essa exposição positiva para fortalecer a dimensão econômica do audiovisual desenvolvendo uma política industrial que contemple toda a cadeia, da produção à exibição, adensando seus diferentes elos e fomentando produções de alta qualidade, com escala e capazes de competir com filmes hollywoodianos, que conquista plateias em diferentes lugares. A oportunidade está em exatamente ampliar os ganhos de diversidade que enriquecem a paisagem audiovisual brasileira nas últimas décadas.
Um audiovisual robusto favorece o turismo audiovisual no país. Temos a chance de ser um país “amigável” a produções nacionais e internacionais que possam retratar histórias, consolidar uma imagem positiva de uma país que tem a coragem de olhar para o seus problemas e desafios e devolver para o mundo a importância de temas relevantes como preservar a memória, o acesso à justiça e o empoderamento feminino temas presentes no filme ‘Ainda Estou Aqui’.
Assim, filmes, séries e até mesmo games podem influenciar a forma como as pessoas veem o território ou as dimensões culturais retratadas. Trata-se de uma ferramenta importante para promover a imagem e atrair a curiosidade por uma cultura. Diante desse contexto, a Embratur criou um programa voltado para articular o audiovisual e o turismo com intuito de promover a imagem do Brasil e atrair o interesse de turistas motivados a viajar pelo que vê em diferentes telas, os chamados jet setters. São 100 milhões de turistas que se dizem hoje motivados a viajar inspirados pelo cinema, produtos televisivos e novas mídias. O chamado turismo audiovisual já é uma das TOP tendências pós-pandemia, segundo o Expedia, e o Brasil apresenta potencial e desafios para fortalecer esse tipo de turismo.
A indústria audiovisual tem um papel importante na construção da imagem de um país no exterior.
Sabe-se que uma produção audiovisual movimenta e traz benefícios para diversos setores da economia de uma cidade. Em média, a proporção dos gastos de um projeto é dividida em 33% no próprio setor audiovisual e 67% em outros, sendo: serviços administrativos (12%), construção (11%), viagens e transporte (8%), alimentação e hospedagem (6%), jurídico, moda, energia, segurança, saúde e outros (30%), segundo a Consultoria Olsberg SPI divulgou em 2020.
Para se ter uma ideia acerca do impacto de uma produção para uma cidade, estudo da Spcine identificou que na capital paulista, para cada R$ 1 investido na produção de um filme ou série, o setor audiovisual tem um retorno médio de mais de R$ 20, e os cofres públicos recebem de volta R$ 1,09.
A adoção de mecanismos para atrair produções audiovisuais para diferentes territórios é motivada também pelos impactos econômicos que geram como a entrada de investimentos estrangeiros no país, ampliação de postos de trabalho e renda, promoção da imagem do país e benefícios a diversos segmentos. O turismo é um exemplo, pois essa cadeia pode-se beneficiar com gastos das equipes de filmagem em hotéis, restaurantes, transportes etc. Sem contar os retornos de imagem em relação aos locais de locação e as possibilidades, se trabalhadas, de atrair turistas internacionais.
A Embratur executou durante o ano de 2024 uma agenda robusta de articulação com instâncias do Governo Federal para sensibilizar para o tema da Film Commission Federal e a necessidade de criar competitividade no Brasil para atrair produções internacionais, a exemplo do que fazem mais de 100 regiões ao redor do mundo. Essa agenda incluiu Ministério da Cultura, Ancine, MDIC, ABDI, Sebrae, MTUR, a presença no Conselho Superior de Cinema, redes brasileiras de Film Commissions e agências de fomento ao cinema, como São Paulo e Rio de Janeiro. Como resultado dessas articulações, está previsto para este mês de janeiro de 2025 um Decreto do Ministério da Cultura criando um Grupo de Trabalho com diversos órgãos do governo e sociedade civil visando modelar a criação de uma Film Commission Federal.
Um audiovisual brasileiro robusto, fortalece o turismo audiovisual brasileiro: importância de uma Film Commission Federal. Hoje há interesse da indústria audiovisual, em especial grandes produtores e plataformas, com sede no exterior, em investir de maneira global em produções audiovisuais, razão pelas quais os países vêm criando regulações e implementando programas de incentivo com uma visão de indústria e não apenas de fomentar a produção nacional.
Tais programas atendem a uma lógica competitiva, tendo em vista que cada país busca estruturar seus incentivos para maior atração de investimentos estrangeiros. Tem-se em conta que 66% dos recursos investidos em uma produção audiovisual transborda para outros segmentos da economia.
Apesar do importante momento que vive, o Brasil carece de infraestrutura (e congêneres) para uma maior competição das obras audiovisuais aqui produzidas, o que pode ser obtido em razão da atração de investimentos do exterior por meio do intercâmbio cultural e tecnológico gerados pelo mercado global. Neste sentido, as Film Commissions (FC) cumprem um papel fundamental, uma vez que se tratam de políticas públicas de estímulo ao mercado audiovisual e ao turismo. Atuam facilitando a produção por meio da oferta de apoios diversos para a realização dos projetos fílmicos. Assim, potencializam e fortalecem essa indústria nas regiões ou propiciam o seu surgimento, atraindo produções para as localidades em que atuam criando, também, as condições para o desenvolvimento do turismo audiovisual.
O trabalho inclui estudos e diagnósticos acerca do potencial do turismo audiovisual brasileiro; presença constante em festivais e eventos no Brasil para promover a importância da criação de uma Film Commission nas diversas regiões do Brasil; e a sensibilização dos atores do audiovisual e trade turístico para a importância do Brasil ter uma Film Commission Federal e estruturas de Film Commissions locais.
Além disso, temos também o edital de curtas metragens Brasil com S, em que selecionamos e apoiamos o desenvolvimento de curta metragens que promovam destinos e histórias brasileiras. Na primeira edição apoiamos o desenvolvimento de cinco curtas que serão apresentados para o público no Festival de Cinema de Tiradentes no final de janeiro.
Esses curtas retrataram destinos e territórios através de temáticas relacionadas à diversidade cultural, natural e inclusão em diferentes regiões do Brasil. No próximo Festival de Tiradentes lançaremos a segunda edição do Edital de Curtas Brasil com S, com foco na Amazônia, com o objetivo de chamar atenção para o potencial e riqueza cultural, urbana e natural deste imenso território, apresentando os curtas desta segunda edição em ativações durante a COP 30 em Belém.
Há, ainda, as iniciativas: Prêmio Brasil Tá Pra Game, lançado em junho de 2024 na GamesCom Latam, em São Paulo, e o circuito internacional de festivais de cinema brasileiro no exterior. Além disso, apoiamos em 2024 o festival de cinema brasileiro em Nova York, Paris, Argentina e Uruguai, Montreal e Toronto, bem como a presença do Brasil em Clemont Ferrant, maior festival mundial de curtas-metragens.