TRADIÇÃO E ANCESTRALIDADE

Salão do Turismo: Ações do afroturismo são apresentadas pela Embratur no Salão Nacional do Turismo

Em encontro, a coordenadora de Afroturismo, Diversidade e Povos Indígenas da Agência, Tania Neres, destacou o caminho a tomar para fortalecer a modalidade de turismo. O  turismo em comunidades indígenas também entrou no debate
Sergio Dutti/Embratur
Embratur participa de mesa redonda, no Salão Nacional do Turismo, para apresentar as ações do afroturismo e do turismo de povos originários

17/12/2023 – A Embratur apresentou, durante mesa redonda no Salão Nacional do Turismo, no início da tarde domingo (17), um balanço das ações de promoção internacional do afroturismo realizadas ao longo deste ano. O debate contou com a participação da coordenadora de Afroturismo, Diversidade e Povos Indígenas da Agência, Tania Neres, que explicou ainda como será o trabalho que será desenvolvido em 2024.

Tania começou a palestra agradecendo ao Ministério do Turismo e ao Sesc/Senac pela oportunidade de participar do debate no evento, que contou com a presença de especialistas no tema, pesquisadores, estudantes e empresários do trade turístico nacional. A gestora explicou ainda que o afroturismo combina inovação e transformação com tradição e ancestralidade, e é um tema que está presente em diversas ações da Embratur. 

“Esse segmento promove o resgate, por pessoas pretas e comunidades, das histórias negras apagadas por séculos de escravismo e colonização, aumentando a autoestima e o poder econômico dessas pessoas,  mostrando um Brasil diverso. No próximo ano, a meta é aumentar o potencial econômico do setor e propiciar conexões entre afroempreendedores brasileiros e internacionais”, enfatizou.

De acordo com a coordenadora da Embratur, a promoção de experiências de afroturismo no padrão exportação é o caminho para promover o aprimoramento dos serviços e as conexões entre os afroempreendedores brasileirosl e de outros países. “O turismo de selfie não é o que nos interessa. Nada dentro da gente consegue ser formado se não tiver um passado. Nossa cultura, nossa música, nossa culinária, isso tudo vem do passado. É preciso visitar o passado para se projetar para o futuro. E isso, que é o afroturismo, gera renda, gera PIB, gera emprego”, completou.

O painel contou ainda com a participação da turismóloga Karina Stael Makuxi; do professor Osiris Marques, que representou o Ministério do Turismo (MTur), e da CEO da Rota da Liberdade, Solange Barbosa. Além do desenvolvimento do afroturismo no Brasil, também foram debatidas as experiências de turismo em comunidades indígenas em Roraima e a estruturação do turismo em comunidades indígenas e quilombolas do país.

“No etnoturismo indígena, cada comunidade tem suas regras e oferece uma quantidade específica de experiências. Isso significa gerar renda de forma sustentável, como guardiões da natureza”, explicou Karina Makuxi. “Usar o turismo como veículo de manutenção da cultura e geração de renda é uma escolha de cada comunidade, seja indígena ou quilombola”, destacou o professor e coordenador do observatório do turismo da Universidade Federal Fluminense, Osiris Marques.

Manifesto
Durante a mesa redonda, a coordenadora Tania Neres apresentou o manifesto do afroturismo, que destaca a presença da ancestralidade afro-originária no cotidiano das pessoas pretas. “Nossos ancestrais não estão no passado, trazemos todos eles em cada detalhe de nosso corpo e espírito, a forma como vestimos, a língua que falamos, a comida que comemos só é possível a partir do trabalho daqueles que nos antecederam”, afirma o texto.

“O Afroturismo é o resgate das histórias negras que foram apagadas durante o período de escravização e colonização, hoje nossos ancestrais retomam suas histórias no turismo sendo representados em rotas que protagonizam o povo preto. O Brasil é o país com maior população negra fora da África o que nos torna uma das maiores referências vivas de culturas ancestrais, onde há uma busca por turismo de reconexão a suas origens”, continua o manifesto.

Em sua exposição, Tânia deu um balanço do que foi feito. Entre as ações, estão as parcerias com a Associação Brasileira de Agências de Viagem Abav, com a Visit Rio, com o Sebrae, que sempre renderam workshops e debates para promover a modalidade de turismo. Houve, ainda, a participação em feiras de turismo em Paris, Nova York e Londres e nas galerias Visit Brasil da Embratur e do Sebrae na Europa e nos Estados Unidos.

A Embratur participou, ainda, de uma série de eventos nacionais voltados para o afroturismo, como um encontro com integrantes do afroturismo na WTM LA, em São Paulo, a participação em audiência pública na Câmara dos Deputados, uma visita técnica pela Rota Fortaleza Negra, no Ceará e a parceria estratégica no Festival de Afrofuturismo, Salvador Capital Afro e Afropunk, além de várias ações de comunicação. Outro destaque é a criação de uma aba no Tripadvisor para a modalidade de turismo.

Ciclo do Cacau
O professor de história, filosofia e antropologia e representante do Conselho de Turismo de Canavieiras (BA), Robson Antonio de Castro, viajou até Brasília (DF) para acompanhar o Salão Nacional do Turismo. Ele foi um dos participantes da palestra da coordenadora de Afroturismo da Embratur. Ele destacou que Canavieiras é um município ligado ao Ciclo do Cacau, no século XIX, e que o conteúdo apresentado fortaleceu a visão da importância de um produto turístico nesses moldes para a região. 

“Nossa comunidade negra, na minha cidade, não é quilombola. É de cultura de matriz africana, mas não tem isso arraigado, porque vem da sociedade cacaueira, que é uma das mais massacradas no Brasil. A possibilidade hoje de termos um turismo voltado a esse conjunto de pessoas e a essa cultura é muito importante não só para a Bahia como um todo, mas para Canavieiras em específico. A palestra da professora vem corroborar muito a visão que nós temos de um produto turístico a ser oferecido com base na cultura cacaueira, e também no trabalho do negro e do indígena nessa cultura”, comentou.

A Embratur lançou, dentro da websérie “Turismo Transforma”, uma edição especial de três episódio em que apresenta o impacto positivo do afroturismo nas localidades em que este segmento tem se estruturado e recebe turistas estrangeiros. Assista aqui.